As primeiras chuvas são sempre as mais complicadas.
Ainda estamos habituados à levezas das vestes de verão. Ainda não temos o verdadeiro apelo pelas camisolas da lã e o chocolate quente a meia do dia.
São as chuvas mornas do Outono que de forma matreira pintalgam o céus de mil cores.
Eram já 16h havia ficado perdida na estética de uma escultura na loja da Maria. Bem na baixa do Porto num dos mais emblemáticos e românticos edifício da cidade. O tempo voara naquela tare cinzenta de finais de Outubro. Do vidro da galeria via a ameaça de chuva. Tinha de me ir embora. Coloquei o xaile sobre a cabeça, peguei na minha nova escultura e sai.
Mas mal sai logo o tempo me atraiçoou. Começara a chover vivamente. De mãos ocupadas pouco podia fazer por mim se não correr para o estacionamento. Corria por de baixo daquela chuva fugindo dos transeuntes. Corria junto dos edifícios abrigando-me como podia. Ainda faltava um quarteirão para o estacionamento e a chuva não abrandava nem um pouco.
Sem me dar conta choquei contra uma pessoa. Caiu-me tudo o que transportava ao chão. E num só tempo baixei-me. Olhei em frente e fiquei estarrecida.
Mas nada mais sentia. Apenas aqueles olhos verdes fixados nos meus. Até que fui acordada por uma voz rouca e quente que me interpelava “ Está bem?”.
Estou bem? ... Não sei.
Estou completamente molhada.
Senti então a força dele que me auxiliava a levantar “ vamos sair daqui estamos ambos molhados”… “ o meu ateliê é nas águas furtadas deste prédio”
Segui de forma hipnótica a sugestão.
As suas mãos suaves e firmes guiaram -me até ao ateliê.
Das mãos retirou-me a carteira e o xaile da cabeça é “melhor secar-se”, pegou numa toalha e fê-la deslizar docemente sob os meus cabelos. Estava plenamente hipnotizada pelos seus olhos verdes e deixei-me levar pelos sue movimentos.
Ainda hoje não sei o seu nome.
Era escultor e como escultor me secou e moldou o meu corpo à arte dos afectos.
E na memória me esculpiu um cálido fim de tarde de Outono numas águas furtadas da cidade do Porto.
Love is a fast food
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